quinta-feira, 31 de julho de 2014

(Trincas)


1
Cantoria infernal.
Os gatos namorando
no fundo do quintal.

2
Tempestade repentina.
O cheiro de terra molhada
invadindo as narinas.

3
Ganhar o pão com
o suor do próprio rosto.
Neste frio, é fogo!


     (José Carlos de Souza)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

(Quimera)



miro a paisagem
como quem sorve
uma abstração
quebro os fios
gastos da ilusão
passo a viver
com os credos
de um novo amanhecer
tingindo os dedos
na magia do anoitecer.

na cadência
do dia a dia
céu em brasas
chão de miragens

Quimera me abraça
e eu sigo viagem.

não posso ficar olhando
o tempo passar
é rápido o trem da história
é pegar ou largar
esquecimento ou memória.


        (José Carlos de Souza) 

* Musicado por Eduardo Knaip

(Desvario)



noite acesa em perfumes
ouço e conto teus passos
leves, vens de mansinho
sou atraído pela tua voz
macia, canto de passarinho
 
noite de raras imagens
cores multiplicando flores
espelhos compondo miragens
a vida pedindo licença
o destino forçando passagem
 
os corpos criam dialetos
arregimentam suspiros
mãos manobram carícias
lábios sussurram malícias
regências do cio, desvario.
 
              (José Carlos de Souza)

terça-feira, 29 de julho de 2014



"nuvens são pássaros d'água."

            (José Carlos de Souza)

(Coisas de criança)



quando eu crescer
eu vou ficar bem grande
assim como meu pai.
 

depois eu vou ficar velhinho
assim como meu vô.
 

aí,
depois, 
eu vou virar passarinho
assim... 

sabiá, beija-flor. 

         (José Carlos de Souza)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

(Palavra esquecida)




escrevo você em imagens
aura perfumada de jasmim

palavra esquecida
nas dobras do tempo.


        (José Carlos de Souza)









(Copo de luar)



de tardezinha
a terra mergulha
em silêncio e meditação.

à noite
bebo um copo de luar.


      (José Carlos de Souza)

(Sismos e cismas)




sismos e cismas
 
gestual caótico

meu coração soterrado
emite sinais

eternidade pálida.  

    
      (José Carlos de Souza)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

(Trincas)


1
lúdica inspiração
:barquinho de papel
tonteando na chuva.


2
temporal
:cortina viva
dispersando o pensamento.


3
rastro de prata
cortando o quintal
:caracol viageiro.


      (José Carlos de Souza)








(Trincas)


1
trago numa arca,
ornada de teias e traças,
as cinzas do futuro.


2
quando você cria,
você destrói a realidade.
a realidade é o que não havia.


3
esquecimento.
vento que varre da mente
os acontecimentos.


    (José Carlos de Souza)

terça-feira, 22 de julho de 2014

(Trincas)



1
um dia a casa cai
e nasce dos seus escombros
um novo haikai.
 

2
o livro fechado
as palavras em silêncio
- natureza morta -
 

3
brilho molhado.
olhos marejados
evocando saudades.


      (José Carlos de Souza)

sábado, 19 de julho de 2014

(ILÓGICO MAR)



o tempo se dissolve
nas águas salgadas
do ilógico mar.
falsos marujos
bebem ecos de sal
saudando a manhã.

barcos errantes
bandeira negra da perdição
navios mercantes
o medo ataca a tripulação
rum no olhar do corsário
infusão de gritos,
alaridos, confusão.

velhos marinheiros
logo viram vultos
são estrelas que  afundam
no mar das Antilhas.


   (José Carlos de Souza)

terça-feira, 15 de julho de 2014

(Catarse)



quebrar as louças
da idolatria
rasgar o véu
da hipocrisia
tocar o céu
ver o que não via

vomitar o ódio
para aplacar o mal
dissolver o orgulho
em água e sal
serenar a mente
para reordenar o caos

centelha cósmica
gozo transcendental
salto mortal
da alma universal


    (José Carlos de Souza)

sábado, 5 de julho de 2014

(*)



no futuro
sobreviverá
quem souber acreditar
sem se deixar iludir.


       (José Carlos de Souza) 

(Tempo)


tempo
já que não posso detê-lo
que eu ao menos possa tê-lo
sem nenhum contratempo.

  
        (José Carlos de Souza)

(Memórias)



memórias
são dados
linho gasto e amarelado
rugas
formando traços
teias
estendidas no tempo.


   (José Carlos de Souza)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

(!)


mesmo rude
a luz da candeia
clareia

olhar que ilude
disco na areia

lua cheia

   (José Carlos de Souza)

(Sonatina)



canto de ave
no silêncio dos homens

rabisco um riso
em versos que não se desenham
num céu de cores planas

cisco no olho da inveja


           (José Carlos de Souza)
(*)


no encarte da alma
quebramos palavras
sem despertar eco


 (José Carlos de Souza)

  (simulando razões) esse jogo de máscaras  esconde esgares congela o voo tudo para que  o caos se faça na pele enrugada da tarde para que u...