quinta-feira, 11 de julho de 2019

(absurdo cotidiano)


o absurdo
multiplica as incertezas.
as vozes se revezam
entre o grito e o silêncio.
a noite fica na linha
que demarca o medo.


o coração pede
um pouco de sombra.


(José Carlos de Souza)

(povo sem voz)


na selva cidade
a fina palavra vida
espetada na ponta da língua


e um imenso nó na garganta
amarrando a fala.


(José Carlos de Souza)

(com o sol na garganta)


o sertão não é metáfora
é vida marcada a ferro e fogo
rusticidade que desafora


quando a seca dá as caras
faz serão anos a fio
demora de ir embora


com o sol na garganta
mãos amarradas ao destino
o sertanejo resiste aos desafios


o olhar plantado na terra nua
vê o sol forjar imagens
criar rios de miragens


seguindo a sina nordestina
juntos cantamos ladainhas
juntos seguimos procissão


(José Carlos de Souza)

(desalinho)


os segredos das marés
ressoam na praia
onde pés e barcos encalham


com estrelas nos olhos
e o céu nos cabelos
vejo o sol naufragar no horizonte


agora é a noite
que alimenta o caos


(José Carlos de Souza)

(absinto e bourbon)


eu bebo os abismos
com sede colossal
odeio meio-termo
receio meio-tom
quero o copo cheio
de absinto e bourbon.


dentro de mim
o destino é teia
de cabalísticos nós.
ao meu lado
um deus passeia
e eu me sinto só.


na verdade eu não passo
de um velho rio assoreado
correndo contra o tempo.
velhas pegadas
resumem o que fui
traduzem o que sou.


(José Carlos de Souza)

quarta-feira, 10 de julho de 2019

(antes do mundo acabar)


antes do mundo acabar
vou fazer um poema
com gosto de samba
feito em mesa de bar


vou gravar sua voz
pirografar seu nome
transformar eu em nós
no fogo que nos consome


antes do mundo acabar
toda lua será de mel
toda estrela terá seu céu
nenhuma paixão será vulgar


vamos transformar o mundo
alquimia que nos faz sonhar
transmutar o ouro do amor
na pomba branca da paz


(José Carlos de Souza)

(versos na surdina)


não pense você
que eu estou num beco sem saída


minha alma em alerta
é uma porta aberta
para o infinito


brotando da fé do imaginário
criando versos na surdina
cortando as cartas do baralho
me sinto dono da minha sina


na corda bamba
no fio da navalha
meu corpo se equilibra


moldando o sol em silêncio
com as mãos de fino artista
fiz nascer um mundo novo
mais humano, mais altruísta


(José Carlos de Souza)
"se você
ligar agora
e me falar de amor
você vai
simplesmente
estar ligando sonhos"

(fio da paisagem)


danço na sombra
ao som dos ventos
e quando venho à luz
venho com os olhos sonolentos
no fio da paisagem


vejo corcéis desembestados
deixando em suas pegadas
falsos sinais
e no voo cego dos lamentos
surge a rima em sóis matinais


em linhas gerais
leio as estrelas
e escrevo nas entrelinhas
o que é óbvio e oculto
sentimentos reais


(José Carlos de Souza)

(ruminações)


a paixão pelo deserto
todo ser humano tem


alguns mais outros menos
o certo é que todos temos


segredos dispersos

por certo

secretas ruminações

(José Carlos de Souza)

  (simulando razões) esse jogo de máscaras  esconde esgares congela o voo tudo para que  o caos se faça na pele enrugada da tarde para que u...