terça-feira, 28 de janeiro de 2014

(Um rasgo na escuridão)



amo a cor perdida
na vertigem
dos dias aziagos
quando uma luz
inventando perfumes
rasga a escuridão.


    (José Carlos de Souza)

(*)



na guilhotina dos astros
gangorram luas


   (José Carlos de Souza)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

(Cut up)



silêncio não se anuncia
ogivas explodem meus nervos

o que dizer do poema sem poesia?


imagens impressas em outro tecido
sopro, vento moído, rendilhados e nós
nossos olhos consumindo a farsa
mágico ordenhar de estrelas
verbo fingido, brilho pálido de punhal

deitarei em teus olhos
um arco-íris sedoso


                             (José Carlos de Souza)

domingo, 26 de janeiro de 2014

(Enlevo)



fico imaginando você
sensível, amorosa
uma flor perfumada

fico sonhando você

cetim revestindo a pele
doce no olhar
segredos nos lábios

e fico pensando
na excentricidade da tâmara.


       (José Carlos de Souza)

(de sol a sol)



a vida passa...

de sol a sol
carregamos nossos fardos
de espectros, memórias...
espólios do absurdo.

como os dias
que se amontoam num paiol,
acumulamos desesperos
na armadilha dos nossos fados.

esperamos Godot
numa esquina perversa
onde tudo vai dar em nada.

de sol a sol...
a vida passa
e apavora.


    (José Carlos de Souza)

(Muro)



muro, anteparo da visão.
porto abandonado
arrimo dos desesperados

mofo, musgo, mazelas...
só o poema
permanece incólume.

a tarde, o sol aquece suas feridas
rasgando a cal, rompendo a argamassa,
buscando o vazio.

na solidão da pedra, alicerce e sustentáculo
dorme a impureza dos que ali se aliviaram.

salva-se a hera
que trepa-lhe o tronco desnudo
e dorme, mudando a feição do momento.


                                        (José Carlos de Souza)

(Raso da Catarina)



raso
de um abismo
profundo
onde a caatinga geme
seu lamento triste.
campo branco
de um céu encerado
e o sol
a lançar suas adagas
feito feixes de espinhos
nas carnes magras
dos famélicos sertanejos.

água,
desejo barroco nordestino.

raso,
luminoso deserto
território inóspito
onde brotam bromélias,
cactos, umbuzeiros
e o valente juazeiro.
céu da ararinha azul,
chão de lagartos,
tatus e teiús.
para mudar a paisagem
basta a chuva cair
e o verde logo se assanha.

raso,
ambiente árido e hostil
de uma vida vibrante.
 
      (José Carlos de Souza)
(Decadência)


ontem
vida farta
mas sem nenhuma alvoroço.

hoje
em nó furtado
vestes transparentes
derradeiro suspiro da açucena.

decadência,
valorosa ruína.


   (José Carlos de Souza)

(Asa)



asa
palavra alada
ara no vento
paisagens distantes

rasga o tempo
brisa, notas cortantes
breves, acordes dissonantes.


          (José Carlos de Souza)

(Giz e carvão)




lua parindo solidão
no silêncio da madrugada

arando a terra
que engole os sonhos
escriturando o medo
que se refugia no futuro

traços de giz
borras de carvão


    (José Carlos de Souza)

(Poema)



cabeleiras
com penacho

centenárias palmeiras

pindorama
onde me acho.


   (José Carlos de Souza)

(Gralha serpente)



em desaforo de poesia
com letras de fogo
na penúria do corpo
um rasgo de ironia
em palavras de aversão
todos os deuses
lendo sua alma
como sendo
o opúsculo secular
de infinita grandeza
oposto da avareza
dos que não têm visão.

pedra de toque
a gralha
semeou livros
sem saber do furor
da serpente
que nos legaria
confundindo as imagens
em enigmas
no outro lado
da miragem
onde o absurdo
se alojaria.


  (José Carlos de Souza)

(Inspiração?)



a gente escreve
o que nos grita a alma

menos que o pensamento
mais que o sentimento.



              (José Carlos de Souza)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

(Conclusão)



nada é tão importante
que não possa
aguardar um instante

tudo é transitório
um tanto ilusório
quase sempre frustrante


   (José Carlos de Souza)

(Rabisco, tropeço, quebro)



rabisco um riso
em seus lábios
castanho manhã
 
tropeço na fala
quebro palavras
língua malsã

   (José Carlos de Souza)

(Vagando)



vagando
contava nos dedos
como quem esconde segredos.

uma formiga
traçando hieróglifos no chão.


       (José Carlos de Souza)

(Engenhando futuros)



caindo das nossas faces
como folhas do tempo
velhas fantasias
de deuses decadentes.

lá fora há um cão
engenhando futuros.


   (José Carlos de Souza)

(Único instante)



nos jardins
as flores se alheiam
enquanto o mar
corre nos olhos.

em todas as horas
seremos um único instante.


           (José Carlos de Souza)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

(Tenho em mim)



tenho em mim
mares e montanhas
caminhos ocultos


no encarte da alma
a vida rasurada


   (José Carlos de Souza)

(Senryu)


 
quando São Jorge
na lua dança, todo
o céu balança.
 
     (José Carlos de Souza)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

(Equilíbrio)



nem topo de montanha
nem fundo de abismo.

 (José Carlos de Souza)

- Poema -



dentro de nós
as canções se repetem.

desastrados bucaneiros
despojados de velhas fantasias
dizimaram estrelas
rasgaram as veias do infinito.

nem pecado nem salvação.
quando o futuro chegar
nada mais haverá.


      (José Carlos de Souza)

(Carne)



a carne
é fraca,
é forte.
pede
faca e corte.
tempero especial
e fogo forte.
 
  (José Carlos de Souza)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

(Interlúdio)



vejo o mundo
por uma fresta
que a imaginação altera e amplia.


              (José Carlos de Souza)

(Janela)

                                                                                    

                                                               mas o que é uma janela senão o ar
                                                             emoldurado por esquadrias?
                                                                   (Clarice Lispector)

                                                                                    janela
móbile retrátil
suporte
de efêmeras imagens
encarte
de supostos poemas
suspensos
em lâminas metálicas

enquadrando a paisagem
que se move
em ritmos variados
/diluindo verdades/
incorporando a visão
das mais distintas linguagens.


          (José Carlos de Souza)

domingo, 12 de janeiro de 2014

(Poema)


há um poema na sombra de cada poeta


                                 (José Carlos de Souza)

(Niilismo absoluto)



sou
osso de ponta/
carne
estragada/
restos
do nada.

  (José Carlos de Souza)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

(Pequena canção)



falar  calar
ficar  partir
seu corpo sentir
num abraço

apertar

medir 

os passos
pesar 

as palavras
errar acertar


do amor
nunca desistir

   (José Carlos de Souza)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

(Ideário)



colher o sol
ao meio-dia

com novas cores
colorir o arrebol

sentir a pulsação
secreta dos rios

dormir nas nuvens
sem temer as tempestades

e no frescor da madrugada
fazer poemas de amor.


   (José Carlos de Souza)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(Prelúdio)


seus olhos
ardiam em mim
(vitrais de desejo)

tarde em mim
a noite ia
(sonhos)

  (José Carlos de Souza)

(Boca)



a boca
faz nascer o riso
diz o diabo
quando se abre em comício
vai da carne à fome
arrota verdades

doura mentiras
convida
celebra
degusta a vida.

em boca fechada
deserto e mar.


   (José Carlos de Souza)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

(Rastros de luar)





gira um céu de muitas noites
na confluência das águas etéreas

vou sozinho abrindo porteiras
olhar estranho da natureza

moinho de flores
em barcos dançantes
movimentam-se os peixes.

o sol é azul nas noites de cem luas.

mãos em concha
colhendo olhares
(rútilos rastros de luar).

    (José Carlos de Souza)

sábado, 4 de janeiro de 2014

(Velho rio assoreado)

 
 
não passo
de um velho rio assoreado
vendo o tempo correr
na tarde escassa

velhas pegadas apagadas
no areal
resumem o que fui e o que sou.

              (José Carlos de Souza)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

(Céu sem par)



céu sem par
cordilheiras no ar
sepulcros da mesma dor
 

onde andará o meu amor?
 

memória fervilha, dissabor
disco arranhado, graduada cor
nada posso falar
não consigo cantar
 

onde andará o meu amor?

                (José Carlos de Souza)

  (simulando razões) esse jogo de máscaras  esconde esgares congela o voo tudo para que  o caos se faça na pele enrugada da tarde para que u...