um jardim posto no olhar suposto beijo a se roubar
com os olhos marejados de poesia senti a sensação de poder voar
(céu de abismos)
à margem da vida no mais completo abandono tropel de incréus em céu de abismos
nenhuma ação coerente nenhuma opção decente o mais que se faz é ranger os dentes
os punhos sonolentos se atrofiam corpos alquebrados definham nenhuma reação urgente nenhuma revolução aparente
nega-se a terra a quem nela labuta mata-se covardemente por quem por ela luta
a desigualdade produz miséria em cadeia envergonha a humanidade, tece sinistra teia
almas mortas relegadas ao silêncio uma mácula que afronta os deuses
(tela distorcida)
a velha avenida abre as pernas numa negra passarela
casa aflitas fogem dos indesejados inquilinos
passeios iregulares brincam de amarelinha
(teimosia)
continuo colocando água no vinho misturando cores nos arrebóis construindo horizontes verticais substituindo o eu por nós
mesmo confrontado continuo acreditando no milagre da poesia
não me calo e não canso de sonhar
(flerte)
flagro o voo do flerte na flauta doce do assovio
no olhar que mistura na paixão que transfigura
coração é só loucura
amor é desvario
(contraface)
violetas voam na madrugada contrabandeando a primavera
e eu não posso interferir na mecânica da vida
mantenho o olhar sensato conforme a cor do tempo
calo as profecias colo nas heresias
vez por outra cismo matutando dons
domingo, 27 de dezembro de 2020
(flores da nossa loucura)
pensei que era fogo de palha o calor que abraçava a chama queimei minha língua ao falar do amor como tardia trama
tentei matar o tempo na rede tocando minha violinha ao luar mas não consegui parar de pensar na água viva que alivia a sede
parti a noite em notas de sonhos vi o sol brilhar no céu da partitura senti o vaivém das ondas do mar colhi as flores da nossa loucura
(olhar incerto)
os pés do passado carregam caminhos
as ideias deslizam no fio da razão
o choro a alegria
a imensidão o vazio
mais uma noite nenhuma paixão
em tempo de incertezas a vida desfila sutilezas
eu me abismo
(lúdicos cuitelinhos)
com o correr do tempo nasceram as crianças
flores na primavera
vieram como pássaros em alegres revoadas
lúdicos cuitelinhos
inventaram mundos mapearam sonhos
sol em meio ao nevoeiro
(malditos sejam)
malditos sejam benditos foram
gregório de matos qorpo santo artur bispo frida kahlo torquato neto hélio oiticica itamar assumpção jack kerouac modigliani raul seixas plínio marcos allen ginsberg camille claudel sérgio sampaio glauber rocha antonin artaud lima barreto sabotage pagu van gogh arthur rimbaud...
malditos foram benditos sejam
amém!
domingo, 14 de junho de 2020
(caminhos infinitos)
os pés moendo a estrada
na pintura aflita desbotada
poeira retocando o relento
garoa de pó soprada pelo vento
atento aos murmúrios da paisagem
olhos febris desmontam os ardis da imagem
e segue o pensamento aflito
cortando caminhos infinitos (José Carlos de Souza)
(do todo a metade)
na dinâmica do dia a dia, os fatos corriqueiros
não dialogam com a realidade
há sempre uma discrepância, uma outra verdade
produzindo a dúvida e o medo
(pura maldade)
tenho a nítida impressão
de que o mundo acaba ali na esquina, tão pequeno
como um corpo sem sangue nas veias
(uma nulidade)
mas o mundo real, esse se desenrola
longe da nossa visão. alterando os sentidos
alternando a pulsão
(do todo a metade)
(José Carlos de Souza)
(ruído raso)
ruído raso
penso o verso na vazão do sacrifício
prefiro o templo destruído
ao belo salão construído com o suor e o sangue dos incautos devotos
minha visão futurista é de um mundo derruído
a carruagem se perde no valor dos cavalos
almas são salvas pelo desapego
ao que é mundano e temporal