segunda-feira, 28 de dezembro de 2020



(quarto minguante)



o espelho da voz
reflete a lua na língua



(segredinhos banais)



eulargootemposolto
fujodoconvencional
oquemeprendeaqui
éosacrifíciodaculpa
ainérciadapreguiçasacrossanta
ohábitoimbécildapostergação
maisnada.atédaluaeumeesquivo.
vivotempossempausa
umarremedodevida
quetraduzoempoemas.

                                             


(um fio...)



um fio de saudade
brilha no céu da memória



(borges)



borges

o cego no labirinto
a mover silêncios



(com os olhos...)




um jardim posto no olhar
suposto beijo a se roubar

com os olhos
marejados de poesia
senti a sensação
de poder voar

                                                    


(céu de abismos)




à margem da vida
no mais completo abandono
tropel de incréus
em céu de abismos

nenhuma ação coerente
nenhuma opção decente
o mais que se faz
é ranger os dentes

os punhos sonolentos se atrofiam
corpos alquebrados definham
nenhuma reação urgente
nenhuma revolução aparente

nega-se a terra a quem nela labuta
mata-se covardemente por quem por ela luta

a desigualdade produz miséria em cadeia
envergonha a humanidade, tece sinistra teia

almas mortas relegadas ao silêncio
uma mácula que afronta os deuses

(tela distorcida)



a velha avenida abre as pernas
numa negra passarela

casa aflitas fogem
dos indesejados inquilinos

passeios iregulares
brincam de amarelinha

(teimosia)



continuo colocando água no vinho
misturando cores nos arrebóis
construindo horizontes verticais
substituindo o eu por nós

mesmo confrontado
continuo acreditando
no milagre da poesia

não me calo
e não canso de sonhar

(flerte)


flagro
o voo
do flerte
na flauta doce
do assovio

no olhar que mistura
na paixão que transfigura

coração é só loucura

amor
é desvario

(contraface)


                                             
violetas voam na madrugada
contrabandeando a primavera

e eu não posso interferir
na mecânica da vida

mantenho o olhar sensato
conforme a cor do tempo

calo as profecias
colo nas heresias

vez por outra
cismo matutando dons
                                    

domingo, 27 de dezembro de 2020


(flores da nossa loucura)

                                                     
                                              
pensei que era
fogo de palha
o calor que
abraçava a chama
queimei minha
língua ao falar
do amor como
tardia trama

tentei matar
o tempo na rede
tocando minha
violinha ao luar
mas não consegui
parar de pensar
na água viva
que alivia a sede

parti a noite
em notas de sonhos
vi o sol brilhar
no céu da partitura
senti o vaivém
das ondas do mar
colhi as flores
da nossa loucura

(olhar incerto)



os pés do passado
carregam caminhos

as ideias deslizam
no fio da razão

o choro
a alegria

a imensidão
o vazio

mais uma noite
nenhuma paixão

em tempo de incertezas
a vida desfila sutilezas

eu me abismo


(lúdicos cuitelinhos)

                                          
                                             
com o correr do tempo
nasceram as crianças

flores na primavera

vieram como pássaros
em alegres revoadas

lúdicos cuitelinhos

inventaram mundos
mapearam sonhos

sol em meio ao nevoeiro


(malditos sejam)

                                     

malditos sejam
benditos foram

gregório de matos
qorpo santo
artur bispo
frida kahlo
torquato neto
hélio oiticica
itamar assumpção
jack kerouac
modigliani
raul seixas
plínio marcos
allen ginsberg
camille claudel
sérgio sampaio
glauber rocha
antonin artaud
lima barreto
sabotage
pagu
van gogh
arthur rimbaud...

malditos foram
benditos sejam
                           
amém!

domingo, 14 de junho de 2020

(caminhos infinitos)


os pés moendo a estrada
na pintura aflita desbotada
                                                     
poeira retocando o relento
garoa de pó soprada pelo vento
                                                               
atento aos murmúrios da paisagem
olhos febris desmontam os ardis da imagem
                                                              
e segue o pensamento aflito
cortando caminhos infinitos

                                                                

(José Carlos de Souza)
                                                    

(do todo a metade)


na dinâmica do dia a dia, os fatos corriqueiros
não dialogam com a realidade
há sempre uma discrepância, uma outra verdade
produzindo a dúvida e o medo
(pura maldade)
                                                                              
tenho a nítida impressão
de que o mundo acaba ali na esquina, tão pequeno
como um corpo sem sangue nas veias
(uma nulidade)
                                                                                 
mas o mundo real, esse se desenrola
longe da nossa visão. alterando os sentidos
alternando a pulsão
(do todo a metade)

                                                                                          
(José Carlos de Souza)

(ruído raso)


ruído raso
penso o verso na vazão do sacrifício
prefiro o templo destruído
ao belo salão construído com o suor e o sangue dos incautos devotos
minha visão futurista é de um mundo derruído

                                                                          
a carruagem se perde no valor dos cavalos

                                                                               
almas são salvas pelo desapego
ao que é mundano e temporal



(José Carlos de Souza)

  (simulando razões) esse jogo de máscaras  esconde esgares congela o voo tudo para que  o caos se faça na pele enrugada da tarde para que u...